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Um livro sobre feridas abertas e crises enfrentadas.

Atualizado: 24 de jan. de 2022


" Aqui é sempre assim, nada nunca acontece como se deseja, a coisa resiste."



Ao ler este livro, percorri emocionada a construção de significado feita pela antropóloga Nastassja Martin, que encontrou o seu urso. Fofo? Visceral. Lindo? Horripilante. O que me fez ir até o final sem desejar piscar? A sinceridade diante da dor. A generosidade em compartilhar as vulnerabilidades nascidas em um acidente.


A crise muito bem que se assemelha a um urso enfurecido. Ele ruge forte. É Incontrolável e natural. Controla-se um urso em plena natureza selvagem?


Urso é urso. Crise é crise. Tente controlar o rugido do urso antes de tentar controlar aquilo que resiste no seu peito, diante de uma realidade indesejada. Consegue? Aplique essa imagem ao que vem tentando controlar fora e dentro de si.


O rugido do urso tirou as emoções do porão? Se sim, você pode chorar. Deve chorar. É urgente chorar. É fundamental recolher-se, parar e gritar para que a dor seja validada. Ferida aberta quer ser vista pra ser curada.


O encontro rasgou em dores a antropóloga. Porém, era o único modo do urso marcá-la para que ela aprendesse sobre si. Já te aconteceu isto também? Conhecer a parte de si, que só vem à tona quando ursos rugem. Situações limítrofes. Descontrole. Medo. Morrerei? Morreremos. Mas em vida? Desperdício.


Ser quem a crise deseja, está aí um grande desafio. A crise raramente deseja que você seja a vítima por tempo demasiado demais. Qual é o nome do seu urso, um diagnóstico oncológico? Um luto? Um divórcio?


Quem assiste ao urso te abocanhando sente dó?


" Os humanos têm essa curiosa mania de se agarrar ao sofrimento dos outros como ostras nas rochas. Tudo se passa como se o acontecimento os revelasse, enfim, a si mesmos, como se o drama fizesse ressurgir emoções há muito enterradas sob a pele, nos órgãos, sentimentos tão extraordinariamente autênticos que se tornam pesados demais para suportar."


Se identifica? Os outros veem os próprios ursos a partir do encontro que você teve ou está tendo com o seu. A dó é sobre eles, não sobre você.

Eles não veem você escutando a fera que lhe surgiu, e a reconhecendo como parte de um caminho inevitável - o de aceitar a vida como ela é e abraça-la com verdade.

Eles veem a si mesmos. Eles veem a fotografia do filme que dura semanas, meses ou anos.


Se estiver diante de um urso impossível de ser controlado, faça o que é preciso ser feito: enfrente-o.


Se a antropologia estuda a cultura e o desenvolvimento da humanidade, o encontro com o urso permite o estudo das profundezas de si. Talvez você se assuste com o próprio escuro. Nunca te pedi perfeição. Alguém já pediu? Permita se reconhecer assustado, frágil, devorado pelo medo. A entrega ao caos natural é um convite para a reconstrução.


Esse livro é o caminho genuíno de alguém que compreendeu a força da própria natureza. Uma crônica real sobre como é importante abraçar os próprios ursos incontroláveis.


Esse livro só nasceu porque a antropóloga não permaneceu no lugar de vítima. Ela topou todos os convites que surgiram a partir do encontro com o urso dela. Topar o processo é altamente recomendável.


Com carinho e força visceral,


Thais Fonseca Ares.






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